segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Diálogo #3

- Psst… porque não paras um pouco?
- Sinto-me stressada.
- Reparei, ainda não paraste, limpas isto e aquilo e arrumas aqui e ali e quando paras olhas à volta à procura de algo mais para te ocupares.
- Não, só o fiz porque tinha que fazer.
- Quem é que se mete a lavar a louça já perto da meia-noite?
- Tinha que ficar lavada ou não?
- Não. Que eu sabia, entras depois das 10.
- E? Ia-me levantar muito mais cedo para a lavar?
- Tens que, simplesmente, parar de ligar àquilo que os outros dizem.
- …
- Sabes que é verdade o que digo, tal como sabes que consegues.
- Não estou a dizer nada…
- Achas que não sei porque andas de um lado para o outro a tentar ocupar a cabeça? Achas que não sei que não é apenas stress mas que também te sentes é triste e desmotivada?
- Ok… calma… respira.
- Quando é que vais acreditar que consegues e que não é isto que te limita? Onde anda a miúda que corria e corria e pulava e fazia piscinas sem respirar mesmo quando lhe doía o peito? Hmm? Por onde anda ela? Diz-me que vou lá buscá-la.
- Exacto Zé, doía…
- E, mesmo assim, continuavas, porque sabias que cada vez ia doer menos, que cada vez ia ser mais fácil e, outras vezes, fazias de repisa para contigo própria, porque dizias que não era ele que te comandava, até ao ponto em que foi preciso doer-te ao máximo para pensares que não era ele que te comandava, mas que juntos comandavam um corpo. O teu corpo!
- …
- Olha para mim… olha-me nos olhos e diz que já não acreditas que consegues, diz-me que acreditas naquilo que os outros dizem, diz-me que sentes que não tens resistência para mais.
- Simplesmente, já não tenho a mesma.
- E, no início, quando começaste, tinhas?
- Não. Ok, eu sei que depois acabei por a ter com o passar do tempo.
- Exacto. Tão porque te stressas tanto só porque alguém te diz que não tens resistência e que aquilo que mais queres não é para ti?
- E se tiverem razão? E se não for mesmo para mim?
- À mais de um ano atrás conheci uma miúda. Uma miúda que foi operada, mas que já antes disto era energética…
- Parvo…
- Uma miúda que, mesmo depois de ser operada, continuou a ser energética, ou melhor, acho que até ficou mais energética. Se bem me lembro, tinha duas vezes por semana 90 minutos de educação física, duas vezes por semana uma hora de natação e que ainda se levantava aos domingos de manhã para ir correr mais de uma hora na praia. Ah, para não falar que muitas vezes depois das aulas de educação física e nos tempos livre metia-se ou a jogar basket ou futebol. Sim, também me lembro que lhe doía, mas que, mesmo assim, ela continuava a lutar para que no amanhã houvesse mais resistência.
- O tempo passa e as pessoas mudam.
- Sim, é verdade. Assim como também há gente que se torna cada vez mais casmurra. Quando o fizeres, não estás a fazer pelos outros, quando desistires, não estás a desistir dos outros, mas sim de ti própria.
- Vais-te embora?
- Hoje?
- Sim.
- Não.
- Vais ficar comigo, pelo menos até adormecer?
- Não sei, acho que não mereces.
- Ok…
- VÊS?! Tão, para que foi que andei aqui a falar isto tudo? Hem?
- Ouhts… calma, só acho que tens razão, que talvez não mereça.
- E mesmo assim não pedes para ficar?
- Perguntei-te se ficavas, certo?
- Mas não insistes.
- E tenho?
- Nem sempre, às vezes basta um olhar teu.
- …
- Psst…
- Sim…
- Vou ficar.
- Já percebi que sim.
- Estás a ser fria…
- Não, estou a ser eu própria.
- Ah, pois, sim, claro. Tu própria? Sim, sim… sim… óbvio.
- …
- Uma pena?
- Não… um aconchego de almas?
- Mereces?
- Hmm… mesmo que não mereça, vais embora sem o dar?
- Sabes que não.
- Então posso adormecer nos teus braços?
- Enquanto te sussurro que és teimosa?
- Achas que não sei isto?
- Há tanta coisa que sabes e esqueces que sabes e ou até mesmo fazes que esqueces…
- És-me único, disto não me esqueço.
- És-me… deixa cá vez…
- O teu…
- Pedaço d’alma mais reluzente?
- Sinhe…?
- Sinhe, parvinha.
- Desculpa ser teimosa.
- Acho que deves este pedido de desculpas a ti própria e não a mim.
- …
- Chega cá, anda…
- Aconchego de alma?
- Só se for a noite inteira.
- Toda, toda, toda?
- Até mesmo depois de nos ser dado a dádiva de vermos o dia clarear ainda nos braços um do outro no quentinho dos lençóis.
- Fazes-me feliz…
- E tu a mim… e tu a mim pequenina…





[Boa noite*]

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