terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Porto de Embarcações


Porto de Embarcações.

Acordo com o soar do zumbido da vibração do telemóvel na mesa-de-cabeceira, atendo e:
- Espero por ti junto ao “Porto de Embarcações”…
Desligo a chamada sem pensar, tendo a noção que ainda ouvi a tua respiração do outro lado antes de desligar.
Viro-me para o lado e observo a luz que já brota da janela. Enrosco-me um pouco mais nos lençóis que, apesar do frio matinal, ainda estão quentinhos. Fecho os olhos e, subitamente, levanto-me da cama.
Preparo-me para sair, saco a chave de casa e o mp3, tranco a porta e sigo pelas escadas do prédio. Desço-as e, ao chegar à porta de entrada, reparo que começara a chover há momentos antes. Sem hesitar abro a porta e saio, começando a minha corrida matinal mas recusando-me a ligar o mp3, basta-me o som das gotas que já me embalam e convidam a continuar o percurso… O mesmo percurso de sempre.
Acelero um pouco mais o passo e a chuva parece que me acompanha na velocidade. Sigo pelo jardim, cada vez mais aviando o passo até que paro sem abrandar antes a corrida, inclino-me para a frente para tentar normalizar a respiração e, ao voltar a endireitar-me, sinto o teu respirar junto ao meu ouvido enquanto me sussurras:
- Qualquer sítio onde te encontro é o Nosso Porto de Embarcações…
- Ai sim? Tão, dizes-me lá porquê.
- Mesmo sabendo que já tu o sabes? – Perguntas-me.
Lanço-te um olhar como quem diz que sim e abraçamo-nos enquanto a chuva continua a cair sobre nós.
- Vamos para casa… – sugeres.
- Não antes de comprarmos algo para o pequeno-almoço.
No caminho para casa, paramos na pastelaria do costumo, quando ainda nem sete horas da manhã batem. Compramos uns donuts e seguimos o resto do caminho de mão dada enquanto ainda chove.
Chegamos a casa e o silêncio parece que nos acompanha enquanto nos dirigimos para um banho quentinho.
Acaricias-me o rosto enquanto suavemente te beijo a mão, deixamo-nos levar… quando já não caem as gotas de chuva sobre nós mas sim as do chuveiro. Enquanto estas nos percorrem o corpo contemplamo-nos num entrelaçar de corpos…
Eis mais um Porto de Embarcações, onde as nossas almas se permutuam numa perfeita imperfeição de mistura unificada que cai e cresce sobre e em nós, como se nada mais fizesse sentido para além do que sentíamos quando embarcamos neste nosso porto...
Cada toque, gesto, movimento, cada suspiro intenso parece mais cúmplice do que o anterior e menos que o seguinte e, entregues a nós, entregues um ao outro, acabamos por fazer amor…
Quando parece que a chuva lá fora abranda com o regatear dos minutos, já deitados, tendo sobre nós os lençóis que nos deleitam as nossas formas corporais enquanto nos mantêm aconchegados, longe do chuvisco que outrora nos molhava, agora, observamo-nos enquanto o silêncio ainda paira no ar.
Silêncio que é quebrado, muitas vezes, por um suspiro mais longo e profundo quando olhos nossos se fitam, quando tu tentas alcançar, num só toque, o que sempre escondo depois de fazermos amor.
- Porquê enroscaste dentro de ti quando em mim o podes fazer?
Baixo o olhar enquanto me perguntas.
- Não te sou estranho, não sou ninguém que acabaste de conhecer, muito pelo contrário.
- Eu sei…
- Tão, porque foges de mim depois de fazermos amor?
- Estou aqui, não estou? Logo, não estou a fugir. – Retorquiu-te.
- Sabes que não é a isto que me refiro.
- Que queres que te diga?
- Nada… deixa-me apenas sentir-te, tocar-te sem que tentes esconder-te.
- Mas tu sabes que... – interrompes.
- Que não gostas, sei… Que preferes ficar apenas a trocar olhares em perfeita cumplicidade. – Acaricias-me o rosto – Quero-te tanto…
Desces a mão pelo meu rosto fazendo deslizar em direcção ao meu peito. Passas-me a mão no meio dele e sustento a respiração por momentos… Subitamente agarro na tua mão e suspiro enquanto viro o rosto para o outro lado.
- Olha para mim…
Abano a cabeça enquanto as lágrimas caem-me pelo rosto.
- Que temes tu? Achas que alguma vez te irei deixar por isto?
Finto-te o olhar enquanto te pergunto:
- E se tiver que ser mesmo operada, se tiver que recorrer a uma cirurgia, vais continuar a olhar-me como me olhaste até agora?
- Eu Amo-te! E tal como não hesito em dizê-lo, não vou hesitar em olhar-te como sempre te olhei! Desde a primeira vez que me salvaste, desde a primeira vez que me agarraste em alto mar e levaste-me em teus braços para terra, me reanimaste e me sorriste com os olhos vidrados tal como agora. Olhos que, tal como naquele momento, reflectem-me neles. Não será isto que me fará deixar de te amar. Quantas vezes voltei eu ao mesmo sítio onde me salvaste pela primeira vez na esperança de te voltar a encontrar? Quantas vezes? Achas que foi apenas porque me salvaste? Não! Foi porque foi em teus braços que senti o que nunca tinha sentido antes… Senti-me vivo e foi pelo “pedaço d’alma”, como costumas dizer, – rimo-nos juntos por momentos – …foi pelo “pedaço d’alma” que abdicaste de ti por mim, para me fazeres renascer que voltei lá. E tal como um puzzle precisa de todas as peças para ficar inteiro, eu preciso de ti para ficar completo.
Sorrio para ti e enquanto te abraço sussurro-te:
- Meu pedaço d’alma reluzente – suspiro enquanto te abraço mais forte – complementas-me também.
E como uma perfeita imperfeição de mistura unificada, voltamos a embarcar nos braços um do outro voltando assim a fazer amor, adormecendo após tal momento de entrega.


Do nada um cheiro a café paira no ar. Abro os olhos e:
- Pensei que, talvez, precisássemos de recarregar as forças. – Elucidas-me.
- Então chega mais pertinho de mim… – e ao aproximares beijo-te suavemente – tu é que és o meu alento maior. – Mordo o meu próprio lábio enquanto te sorrio.
- Gosto de te sentir, de te ver assim…
- Assim como? Com ‘fomecas’?
- Bem Amor. Com esse sorriso que upa upa… deixa qualquer um com vontade de…
De sobrancelha meio elevada pergunto-te:
- De…?
- De te morder muarrr – ‘saltas-me’ para o pescoço.
- Tão? Cuidado, ainda entornas isto tudo e olha que o café está quente. – Deixo escapar um sorriso enquanto me encolho.
- Pronto… pronto… estou calmo, ufa... tu… vou-te contar. – Piscas-me o olho.
- Parvo – sorri para ti.
- E agora ela chama-me nomes, boa, amei! Mas, posto isto, diga-me lá a menina: que vai querer primeiro?
- Uma vida eterna para te amar…
Levantas o rosto, olhas para mim e respondes:
- Tão pois que assim seja, que nossas almas se tornem imortais e que mesmo após o último suspiro desses corpos nunca nos falte a brisa para nos voltar a guiar um ao outro. – damos as mãos, entrelaçamos os nossos dedos enquanto assim o declaras.

2 comentários:

  1. Tens um desfio no meu blogue, caso queiras responder.

    **

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  2. Quando tiver um tempinho passo por lá ;)

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    PS: Espero que esteja tudo bem contigo.

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Zinom