segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Pelo menos por agora...

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Mala, chaves, casaco. Tranco a porta e sigo.
Chove fortemente, e meros metros depois paro.
Enxergo a poça que espelha o meu rosto enquanto corpo meu sente a chuva cada vez mais intensa.
Fecho os olhos, ergo a cabeça aos céus e sinto cada sopro do vento, cada gota que cai em mim como cristal e desliza-me pelo rosto como lágrima. suspiro…
E do nada sinto… sinto…
Quem sinto eu? Que sinto eu?
Um toque… um toque… sim, um toque. Um suave toque que me acaricia o rosto… uma respiração que se aproxima mais enquanto a minha se acelera… suavemente enquanto baixo um pouco o rosto sinto teus lábios juntos aos meus, um entrelaçar de dedos… suspiro quando teus lábios sobre os meus culminam…
Um toque… um beijo… que surgirá a seguir? Nem me atrevo a abrir os olhos. Contenho-me.
- Como és bela…
É a tua voz? Não, não pode ser, tu nunca farias tal coisa. Nós, …, nós só trocamos meros olhares por instantes, uma, duas, três vezes? Não, quer dizer, sim, sim algumas vezes mais, mas… não… não serás tu, não podes ser tu…
Contenho-me mas o desejo de ter a certeza é mais forte. Não registo e abro os olhos sem saber o que…
- Tu… - Olho-te nos olhos.
Baixo o rosto e subitamente num só toque voltas a erguê-lo. Olhas-me…
- Sempre desejei alcançar os teus lábios. Como és bela… desculpa-me por não me ter contido e te ter beijado, só que… tu, sei lá… a forma como ergues o rosto e sentes a chuva, como as gotas te percorrem… - baixas o rosto.
- Obrigada.
Olhas para mim e sorrio-te timidamente, baixando eu depois o rosto.
- Não o faças.
- O quê? – pergunto-te.
- Não baixes o rosto como se te fechasses dentro de ti mesma.
- É melhor ir… eu… já devo estar atrasada.
- Espera, por favor.
Volto a olhar para ti.
- Tenho mesmo de ir. – Contorno-te e sigo.
Mas, porque tenho eu que ir? Atrasada?! Atrasada para quê? Hum?
Paro subitamente. Fecho os olhos e volto-me. Volto a abri-los e ali estás tu de rosto baixo a olhar a mesma poça onde à momentos antes me reflectia, …, nos reflectia.
Regresso para junto de ti, seguro-te pela mão e sorrio-te. Apetece-me abraçar-te e nem imaginas o quanto. Como posso eu sentir vontade de abraçar alguém com quem só troco meros olhares? Olhos meus parecem fazer transparecer tal questão. Que parva, que estou eu a fazer? Não controlo os meus impulsos? As minhas emoções? Solto-te a mão.
Mas tu aproximas-te.
- Nem eu sei porque o sinto. – E é como se me respondesses à questão inicial.
- Nem eu… - sussurro-te.
- E também apetece abraçar-te.
Ao sorrir questiono-te:
- E lês-me também os pensamentos? – Mordisco o lábio.
- Adoraria. – Respondes-me com um sorriso.
Volto a suspirar e desta vez és tu quem me segura pela mão enquanto te aproximas mais.
Não há impulsos, não há nada mais a conter, por segundos deixo-me levar e sinto o teu corpo junto ao meu. Agora unidos por um abraço. Um abraço cúmplice.
Fecho os olhos e permito-me sentir-te. Permito-te que me sintas tu também.
Uma parte de mim deseja fugir, porquê, para quê, nem eu sei. Mas a parte que de mim resta deseja simplesmente que este momento não termine. Pelo menos por agora, enquanto ainda chove, enquanto aquele charco ainda nos reflecte.

1 comentário:

  1. Adorei. :) E porque será que o cenário de chuva não me surpreende? ;)

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Zinom